Por que perdemos tantas chances para ensinar o que é RESPEITO?
- Instituto Multiplicidades
- 4 de mar.
- 2 min de leitura
Eu entro esbaforida na sala. A turma fica surpresa ao me ver, porque não era o horário da minha aula. A professora que deveria estar ali tinha faltado por um problema sério de saúde. Ela estava sofrendo com crises de pânico. Naquele dia, ela não conseguira sair do quarto. Fomos avisados pela filha mais velha que chorava ao telefone por ver a mãe sofrer.
Como era minha “janela”, um horário vago entre aulas, a coordenadora correu à minha procura e me pediu para substituir a docente. Eu sabia o que estava acontecendo com minha colega. Ela me confidenciara suas aflições.
Naquele dia, o medo a venceu e ela não conseguiu sair da cama. Eu estava na cantina, quando a coordenadora me achou. Ela parecia irritada com a ausência da professora, mesmo me relatando o sofrimento que percebera na voz da filha. Como se a docente tivesse escolhido faltar.
Já tinha batido o sinal havia uns cinco minutos e aquele segundo ano era uma turma agitada, falante e com alguns alunos bem “danados”. Peguei meu material – sou professora de português, ou seja, muitas pastas -, corri para a sala e entrei ofegante. Joguei tudo na mesa e, quando fui sentar, ouvi uma sobreposição de vozes, gritando: NÃO!
Sentei. A expressão dos alunos se misturava entre risos, pânico, constrangimento e repulsa. Comecei a olhar em volta para entender o que estava errado. Passei a mão na mesa, nada. Quando tentei me levantar, minha saia ficou presa. Sentei e levantei novamente. Não consegui. Dirigi meu olhar para os alunos. Alguns baixaram a cabeça, até que um deles me disse:
- Prô, não era para você sentar aí. Não era para você.
Não era mesmo. Era para a professora que estava em casa, desesperada, com medo. Eles tinham colocado cinco gotas grandes de Superbonder na cadeira. Lembro que neste dia usava uma saia de seda estampada com um forro mais grosso para esconder a transparência. Foi o que me salvou de aquele líquido ter chegado até minha perna.
É fato que perdi a saia, tirei uma das cortinas para vestir e voltei para minha casa indignada, mesmo com a objeção da orientadora, que disse que arrumaria alguma roupa, porque a coordenação não tinha outra pessoa para também me substituir.
Indignação, porque apesar da coordenadora ter dado uma bronca na turma, aos olhos da equipe, era apenas uma brincadeira. Um gesto bobo de alguns alunos que queriam se divertir. Nada aconteceu: ninguém foi advertido, suspenso, nenhum responsável foi chamado.
Que chance a escola perdeu para ensinar aos alunos o valor universal do RESPEITO! Por que aceitamos cada vez mais situações como essa, justificando-as como brincadeira?
Não era para mim e isso não faz a menor diferença. A professora se afastou e eu continuei.
O que falei para essa turma na outra aula em que estive com eles, fica para um próximo texto.
Mas não esqueçamos que respeito é reconhecimento do valor e da dignidade de alguém. RESPEITO É ENSINADO. Inclusive e, principalmente, por nós, professores.
Carla Cristina Arruda

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